Centro
Histórico da Imigração Italiana, nacionalidade extremamente nos bairros
do Brás, Bexiga e Barra Funda
Em 1927, as
bases paulistanas do Modernismo brasileiro testemunharam o surgimento de uma
das primeiras grandes obras de sua escola: o livro de contos Brás, Bexiga e
Barra Funda, de Antônio de Alcântara Machado. O escritor retratava as
transformações que o imigrante italiano trazia para a cidade de São Paulo. E
incorporava ao texto a fala e até mesmo a dinâmica da vida cada vez mais
urbanizada da cidade. Em 11 pequenas histórias, contos que beiram a crônica ou
mesmo a notícia de jornal, aspectos pitorescos e casos do cotidiano reproduzem
uma nova realidade social. Para ser mais exato, reportam, uma vez que o
primeiro texto, Artigo de Fundo, apresenta galhardamente o livro como um
jornal, "como membro da livre imprensa que (...) tenta fixar tão-somente alguns
aspectos da vida trabalhadeira, íntima e quotidiana desses novos mestiços
nacionais e nacionalistas".
Alcântara
Machado reúne nesse livro-jornal o que ele próprio chama de "episódios de
rua": a história do menino que sonhava sair na frente de um cortejo
fúnebre (Gaetaninho); uma moça estrábica que não é cortejada por ninguém
(Carmela); o patriotismo de um soldado que esbofeteia outro por não ser
brasileiro (Tiro de Guerra no 35); um homem cuja confissão de homicídio (por
amor) vira refrão de música (Amor e Sangue); a recusa de um pai em deixar a
filha se casar com um italiano (A Sociedade); o desejo de uma menina por um
urso de pelúcia (Lisetta); amores e desapontamentos em uma partida de futebol
(Coríntians [2] vs. Palestra [1]); o futuro de Gennarinho, que passa a ser
criado por uma família portuguesa e a se chamar Januário (Notas Biográficas do
Novo Deputado); o luto de uma mãe e os fragmentos de um enterro (O Monstro de
Rodas); os sonhos de riqueza de um grupo de pessoas pobres (Armazém Progresso
de São Paulo); um italiano que, primeiramente decidido a apenas falar na língua
materna, decide naturalizar-se brasileiro (Nacionalidade).
Nessas
histórias, percebe-se uma grande habilidade em captar a linguagem popular,
aqui, a fusão do português com o italiano, e empregá-la no texto sempre em
favor do coloquialismo e da representação viva dos personagens. Veja-se um
trecho de A Sociedade: "Tirou o charuto da boca, ficou olhando para a
ponta acesa. Deu um balanço no corpo. Decidiu-se. - Ia dimenticando de dizer. O
meu filho fará o gerente da sociedade... Sob a minha direção, si capisce. -
Sei, sei... O seu filho? - Si. O Adriano. O doutor... mi pare... mi pare que
conhece ele?". A concisão, as frases curtas e a descrição espacial enxuta,
tudo é concentrado nessas notícias de São Paulo: "Foi-se chegando
devagarinho, devagarinho. Fazendo beicinho. Estudando o terreno. Diante da mãe
e do chinelo parou. Balançou o corpo. Recurso de campeão de futebol. Fingiu
tomar a direita. Mas deu meia volta instantânea e varou pela esquerda porta
adentro. Eta salame de mestre!" (Gaetaninho). Nascido em 1901, em São
Paulo, e falecido no Rio, em 1935, Antônio de Alcântara Machado ainda
demonstraria a evolução como prosador nas obras seguintes: Laranja da China
(1928), Mana Maria (1936, inacabado) e Cavaquinho e Saxofone (1940, póstumo).
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